segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Conversa de banco

Tarde no Banco do Brasil. Esqueci meu livro no carro. O carro estava a quase um quilômetro do banco, pois foi o único local onde encontrei vaga. A uma certa altura da tarde, surge um senhor de 60~70 anos que se senta ao meu lado. Transcrevo a conversa:

Ele: Hoje em dia tá tudo em inglês. Até no banco! Banco online. Personalized. Tudo em inglês! Num é mesmo?
Eu (que acho melhor concordar do que contrariar): Uhum.
Ele: Agora é moda. Você é o quê? Portuguesa? Inglesa?
Eu (assustada): Sou brasileira.
Ele: Brasileira de onde?
Eu: Daqui mesmo.
Ele: E qual que é o seu nome?
Eu: Diana.
Ele: Vê só! Daiana! Até seu nome é inglês.
Eu: Não, meu nome é Diana.
Ele: Ah, num é Daiana, não? Esquisito. (Pausa durante a qual eu achei que ele ia me esquecer) Mas e esses políticos, hein? Esse mensalão vai dar em nada. Lula e essa Dilma aí, são tudo trambiqueiro. O cara já disse que era o Lula que mandava na bagaça toda, mas ninguém vai preso nesse país. Até aquele palhaço do flamengo que matou a namorada. Dois anos na cadeia! Bem que ele falou "tô livre". E ainda diz que ano que vem vai jogar na seleção.
(Achei que ele ia escarrar e cuspir no chão, sério)
Eu: Terrível mesmo.
Ele: Você votou em quem? Na Dilma, né?
Eu: Foi.
Ele: Olha aí, é gente que nem você que estraga tudo.
Eu (já meio grilada): E o senhor queria que eu votasse em quem?
Ele: No Serra!
Eu: Ah, mas o senhor é tucano? E ainda reclama do Lula?
Ele: Esse Lula é um corrupto. Vê agora, tá tudo parado: hospital, educação, transporte, polícia! O povo faz o quê? A mulher tá grávida, dando à luz, e tem que esperar um mês mais pra ver se a greve acaba? É um absurdo. A Dilma faz o país inteiro parar e ela fica lá, roubando tudo.
(Outra pausa enquanto eu penso se não devo perguntar o que ele acha do Marconi e se ele votou no Demóstenes)
Ele: E você faz o quê? Estuda?
Eu: Sim.
Ele: Estuda o quê?
Eu: Engenharia química.
Ele: Engenharia química é bom. Meu filho fez engenharia mecânica, trabalha na Ford, lá em Minas.
Eu: Legal.
Ele: E seu pai, faz o quê?
Eu: Trabalha na Oi.
Ele: Outro ladrão!
(Opa, esse velhinho tá ofendendo meu pai gratuitamente?)
Eu: Como?
Ele: A Oi. Rouba demais. Meu celular da Oi, os créditos somem! O da Claro dura um tempão! É que nem o filho do Lula. Já viu? É dono da Gol, do porto do Paraná, de Santos (mais um monte de coisas que eu não lembro). E ninguém chama o safado pra depor e dizer de onde tirou esse dinheiro todo.
(Lógico que fiquei calada de novo.)
Ele: Vê aí se já é minha vez.
(Me mostrou o papel dele com a senha. Obviamente ele seria atendido antes de mim, porque sua senha era preferencial)
Eu: Faltam dois, aí é o senhor.
Ele: E você? Ainda demora?
Eu: Demora. Faltam umas dezessete pessoas, sem contar os preferenciais.
Ele: Quer que eu pague pra você?
Eu: Não precisa, não.
Ele: Vamo lá comigo, aí pago e você fica livre.
Eu: Não, não 'tô com dinheiro, 'tô só com o cartão.
Ele: Você tá é com medo de eu roubar seu dinheiro, né?
Eu: Não, tô só com o cartão mesmo.
Ele: Então vamo lá, eu falo que você é minha filha.
Eu: Mas isso num é corrupção? Tentar tirar vantagem? Tem gente que entrou na fila antes de mim.
Ele: Minha filha, quem não é corrupto hoje em dia fica pra trás.
Eu: Aí nós vamos ser iguais a eles, o pessoal do mensalão.
Ele: Você não entende nada...

É, acho que não entendo mesmo.

7 comentários:

  1. Mas que beleza de conversa heim?! Fiquei imaginando o semblante do cara e a tua..
    Senhor geração ditadura, que agora o que fazem é criticar o "sistema".
    Ah e meu nome é muito "inglês"!hahaha

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    1. Nem tinha pensado nisso, Dai! Você é da modinha dos nomes em inglês! hauihauiahauiha

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  2. Já me aconteceu dessas. Muito bem escrito!
    E tua paciência é impressionante.

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  3. Então o velhinho pode praticar corrupção só porque são apenas 17 pessoas que saem prejudicadas, e não 190 milhões? Você não entendeu os números, Diana..rsrsrs.. E ainda se diz Engenheira? hehe..

    Depois de tantos anos vividos, ele ainda não percebeu que são nas pequenas ações que um ser humano se mostra quem realmente é... Vergonhoso, o tiozinho.

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  4. Eitaaa!!! O véinho tá caducando já!! kkkkkkk

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  5. Bem escrito, Diana! Além desse lado meio cômico-urbano, vale a percepção de que mesmo os brasileiros mais críticos acabam por se aproveitar do sistema de alguma forma, não é mesmo?
    Continue suas observações!

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