quarta-feira, 30 de maio de 2012

Porque eu APOIO, sim, a greve das Universidades Federais Brasileiras


Começa no ensino fundamental, nas primeiras aulas de geografia, história, português. Algum professor, geralmente não tão politizado quanto nos leva a crer, põe o assunto em pauta. Infelizmente não há como discordar. É fato que a educação no Brasil não tem nenhuma prioridade e que você, naquela escola particular, é um privilegiado.

Depois vem a história do Brasil. As maluquices de cada rei, imperador, presidente... E as reclamações dos nossos pais sobre como o Leão tem se alimentado dos seus salários, comendo nada menos que 30% de cada um deles. Aí vem um belo dia em que vemos uma reportagem que diz que a gasolina sai da refinaria a noventa e nove centavos (colocando dados de hoje, claro), mas o papai paga R$ 2,89, por causa dos impostos.


Novamente a escola. Geralmente o professor de geografia, talvez o de matemática na explicação de percentagem. Pra quê servem os impostos? A garotinha mais esperta pergunta, sabe que tem algo errado ali. É mesmo, pra quê servem? E o professor diz que ele serve pra investimentos no país. Hospitais, escolas, universidades, estradas – tudo é feito com o dinheiro dos impostos.

Feito? O papai vive reclamando ou que tem que balancear o carro bimestralmente por causa dos buracos, ou do preço do pedágio. Será que pedágio é imposto? E os hospitais? Hospital é plano de saúde? Minha tia vive reclamando que o plano de saúde dela não deixa ela fazer os exames. A mamãe chora com o preço do feijão. Do arroz, do açúcar, do sal. Do sapato, do uniforme. Tá tudo caro, e aumentando. Mas, alguém diz, podia ser mais barato, não fosse o imposto.

No ensino médio, todo mundo já sabe o que vai fazer quando, finalmente, conseguir entrar naquela federal dos sonhos. Vai lutar pelos direitos, vai protestar. Até o pessoal da engenharia! Mas agora é estudar, porque é foda passar no vestibular. A concorrência é alta. E a burrice é desse pessoal que vota mesmo. Como que reelegem o Maluf, gente? Até o Collor ‘tá na política de novo. E o Tiririca? Deputado federal. E o problema, dizem, é que ele é analfabeto. Mas o Lula não é analfabeto?, alguém pergunta, cheio de certeza. Pois é, fez só até a quarta série. Peraí, o Maluf lá atrás, não ‘tava respondendo processo por desvio de verba pública?

Corrupção. O Demóstenes gosta de investir no jogo do bicho. Investir o quê? O dinheiro dos, lembra deles? Dos impostos. E o Cachoeira? Aquele coitado sem amigos? Aquele que liga pra todo mundo. Mas as ligações não podem ser usadas como provas do comportamento indecoroso dele. Por que não? Sei lá, essas coisas de política são assim mesmo, acabam sempre em pizza aqui no Brasil. Todo mundo sabe.
A universidade chega. É mais difícil do que a gente pensava, mas é de graça. A estrutura é fraca também, né, mas ‘tá vindo um dinheiro do REUNI agora, pra abrir curso novo e restaurar os velhos. Vai ficar tudo bonito. Dois, três anos... Cadê o dinheiro do REUNI? A gente precisava de umas chaves de fenda pra mostrar a montagem do equipamento, pode ser essas de dez reais. Seis meses de licitação pra chegar. E ainda culpam o pessoal da física, que vende as apostilas a quinze reais pra juntar uma grana pros consertos mais simples.

E os livros? Um livro pra cada dez alunos é obrigatório na biblioteca. Tomara que os outros nove tenham dinheiro pra xerox, né? Haha. Mas não era de graça, a universidade? É, uai. Quem tem o atestado de pobreza come de graça no RU. Tem a bolsa manutenção, também, pro cara não largar e ir trabalhar, ou pelo menos pra arcar com os gastos das xerox. Atestado de pobreza na federal? É, gente, tem as cotas. São uma boa solução parcial pro problema da educação. Só pro pessoal que não pegou a educação básica boa que tá vindo aí.

Chega né? Acho que já falei o suficiente da hipocrisia do nosso país. É absurdo isso tudo. Essa roubalheira toda, os ladrões saem impunes, o retorno dos impostos não vem, as universidades ficam a Deus dará... Ninguém faz nada.

E agora vem greve, gente! Os professores das universidades federais entrando de greve! Eu quero formar, caramba! Viajar com a família então? Nunca mais. As férias do irmão mais novo, que estuda em escola particular que nem eu estudei, nunca mais vão bater com as minhas. Que diabos esses professores querem? Negociar com esses políticos que não melhoram a educação? Reclamar que a insalubridade deixou de ser 20% do salário e passou a ser 200 reais? Que o aumento do salário do professor universitário, aquele que, geralmente, tem que ter no mínimo doutorado pra tentar o concurso, foi bem menor que a inflação do período, quando finalmente aconteceu? Faz nem sentido. Os servidores técnico-administrativos já tentaram, sabe, mas não adianta nada. Pra quê tentar? Ainda mais que, enquanto eles tentam, eu fico aqui à toa. Quero é ganhar dinheiro, parar de depender do meu pai e da minha mãe.

Se eu quero que a educação melhore? Que a universidade tenha mais investimentos e, acima de tudo, que a educação básica cresça e se torne melhor que a particular? É lógico que eu quero! Torço demais pra isso, esses ladrões é que não ajudam...

Mas fazer o meu sacrifício, ficar sem a minha aula por um tempo, apoiar a greve daqueles que são responsáveis pela formação de milhares de jovens e adultos, ajudando meu país a crescer e, com um pouco de sorte, a mudar?

Ah, isso não.

Um comentário:

  1. Pois é, fiquei lembrando das minhas aulas da educação básica.. a vida toda estudei em escola pública, sou filha e afilhada de professoras.. Mas, ao contrário do que eu penso, elas nunca foram de fazer reivindicações - filhas da Ditadura. Que coisa atoa não é, lutar por melhores condições no Ensino Superior, salários mais dignos..
    Aqui no RS a situação se agrava a cada dia porque o governador não quer pagar o Piso Salarial ao magistério, que, por sua vez, não se decide se entra ou não em greve porque grande parte dos "cabeças" do sindicato são do partido do governo..
    Ai há questões ainda mais sérias: o impasse entre o que se DEVE fazer e o que ESTÁ sendo feito, pois a politicagem predomina nestas horas. E justamente por isto que a greve das UF's assusta e causa tanto desconforto, são os professores do "governo" se voltando contra ele. Que absurdo não?!
    Esse é um tema bem polêmico, mas muito bom de ser debatido.

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