quinta-feira, 14 de junho de 2012

Qual é o seu número? (What’s your number?)





Assisti no dia dos namorados o filme Qual é o seu número?. Loquei por causa do Chris Evans, claro, e o namorado concordou por causa da Anna Faris e do Andy Sambarg. Somos democráticos. O filme é uma gracinha, tem participação do Watson da série Sherlock Holmes, e me rendeu, além de muitas risadas, uma reflexão. Tudo porque, algumas horas antes, eu tinha lido esse outro texto.


O lance é o seguinte: Ally é uma garota normal. Como qualquer americana ela fez faculdade de alguma coisa qualquer meio que por fazer. Trabalha com marketing, mas sua verdadeira paixão é fazer esculturas de argila. A irmã dela, Daisy, vai se casar em breve com um ex-namorado do ensino médio que, à época, a traiu com uma das garotas da escola.

Colin é o vizinho bonitão de Ally. Dorme com uma garota diferente todos os dias e aprendeu com o pai policial a investigar pessoas. É músico, mas trabalha mais por prazer que por dinheiro.

Tudo começa quando Ally lê uma matéria na Marie Claire intitulada What's your number? que fala que, em média, uma mulher dorme com 10,5 homens em sua vida. Acontece que a conta de Ally já está bem maior que isso: ela está em 19! E a revista diz que acima de 20, as chances de a mulher se casar caem absurdamente. Ela tenta testar a veracidade dos fatos expostos com uma brincadeira de fazer uma sex list na festa de despedida de solteiro da irmã e descobre o pior: a garota considerada mais vadia no grupo teve só 13 caras.

Ally decide que não vai passar dos 20. Que o vigésimo cara vai ser aquele com quem ela vai se casar - porque ela quer se casar! O problema é que ela chega aos vinte nessa mesma noite. Sim, Ally é bastante chegada numa bebida, gosta de dançar, conhecer gente. Mas acaba terminando a noite sempre de um jeito inesperado. Foi assim que ela chegou até os 20.

Por motivos que não vou dizer porque será muito mais divertido ver no filme, o 20º não é exatamente o príncipe encantado dela. E aí Ally toma a decisão mais louca de todas: que precisa reencontrar seus ex-namorados pra não passar dos 20. Se deu certo com a irmã dela, porque não daria com ela?

Infelizmente não é tão fácil encontrar os caras. Ela sabe seus nomes, lembra algumas características, mas não é exatamente uma detetive. É aí que Colin entra na história. Ele concorda em encontrar os caras pra ela enquanto ela concorda em deixar ele se esconder na casa dela até a garota do dia sair. Um acordo totalmente razoável.

Daí em diante todos sabem o que acontece, não preciso continuar. A questão é: Ally está sempre tentando agradar os caras, impressioná-los. Ela acorda antes pra pentear o cabelo, se arrumar e voltar a fingir que está dormindo pro cara achar que ela acorda bonita. Ela força - e essa é a cena mais engraçada do filme pra mim - sotaques. Enfim: o problema dela é não achar em hipótese alguma que sendo ela mesma vai conquistar alguém.

Ally está sempre tentando ser quem alguém quer: quem a mãe dela quer, quem o namorado atual quer, quem as amigas querem, quem a revista Marie Claire quer... Ela é uma garota legal e fofa, cheia de sonhos que comete um monte de erros pra tentar ser quem esperam dela. Ela parece periguete pra sociedade? Pior que sim. Bebe pra caramba, usa roupas curtas/apertadas. Mas que ficam ótimas no corpinho de Barbie dela, claro. Ela é periguete? A Marie Claire acha que sim. As amigas também. E você? 20 é muito? Faz diferença?
Não digo que se você tem uma crença, não deve segui-la. Se você acha que só deve ter uma pessoa na sua vida para sempre, vá em frente. Se você quer experimentar de tudo antes de se algemar, boa sorte! Se nem pensa em um dia parar, ok! Só acho que é essencial não se perder tentando agradar a todo mundo, ou seguindo a maioria, ou, pior ainda, seguindo a vontade de uma única outra pessoa.

Apesar de ser livre, bem resolvida e ter alguém que a apreciava do modo como ela era, o que Ally queria era o que as outras pessoas aprovavam. Ela pos na cabeça que somente aquilo a faria feliz. É óbvio que a situação do filme é extrema pra dar graça à situação, mas se pararmos pra pensar, todos já fizemos isso em algum momento da vida, especialmente na adolescência. Nós tentamos agradar aos outros - amigos, pais... - e não percebemos que estamos nos traindo. Eu inclusive costumo considerar que o amadurecimento maior da adolescência é perceber que você pode e deve ser o que quiser, seguir o que achar certo ou melhor. Só que muita gente chega na adolescência, passa para a vida adulta e continua sem perceber isso. Continua buscando objetivos que não são seus.

Não quero dizer com isso que Colin é o cara mais certinho do mundo. Ele tinha relacionamentos superficiais - um por dia, praticamente! - e feria dezenas de mulheres pra se divertir. Ele se feria. Mas, pelo menos, ele seguia o que acreditava ser certo. Ele tinha uma carreira que o fazia feliz e uma vida independente. Ele era um biscatão e não dava a mínima. E quando o que ele queria bateu na porta da frente, ele enxergou, porque não tinha influências externas.

Anti-ontem vi essa matéria no G1. Primeiro pensei que era um pouco extremista. Depois que era justo, dadas as crenças deles. E, por fim, pensei que se eles eram felizes assim, tinham mais é que fazer isso mesmo. Um monte de gente pode achar estúpido, tolo e até inútil, mas eles não. E quem tem que achar certo e bom além deles? Ninguém. Pra ser honesta, eu os admiro, afinal é um decisão difícil. Mas não cabe a mim julgar. O que eu acho é que eles são biscates também, só por fazerem o que querem e acham certo.

No fim, Ally entende que deve ser biscate e ficar com o cara que quer. Aquele que gosta dela do jeito que é, do jeito maluco e torto dela. Que incentiva que ela faça suas esculturas e valoriza isso. Enfim, o que faz bem pra ela.

Ela se cansou dos empregos chatos e decidiu investir nas esculturas. Ela enfrentou a mãe e disse: é esse cara que eu quero. Ela foi contra a irmã e as amigas e ficou com o cara mais galinha do mundo. Ally se livrou de grande parte das suas amarras e se sentiu, finalmente, feliz e livre. Mas, principalmente, ela se livrou de seus próprios preconceitos. Encontrou seu próprio ritmo.

E quanto a você, qual o seu número? Um, dois, três, quatro, dez, vinte, trinta? Zero?

Tomara que você esteja contente com ele.


P.S.: Se você não entendeu o emprego do termo biscate nesse post, visite o Biscate Social e divirta-se.

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