sexta-feira, 6 de julho de 2012

Minha primeira semana como voluntária

Como não canso de dizer por aí (meio aprovando, meio insatisfeita): minha universidade está em greve desde o início de junho. Os professores resolveram todos passar "um trabalho valendo a nota final" e eu terminei atoa em casa. Como de praxe, as primeiras duas semanas foram ótimas. Acordar, fazer nada, comer, fazer nada, dormir.  Mas aí vem o tédio e aquela necessidade de fazer alguma coisa. Num dia feliz, antes de ir na casa do namorado, resolvi passar numa escola municipal que tem aqui pertinho de casa, saber se eles estavam precisando de alguma coisa, nem que fosse recortar figuras pra educação infantil. Falei com a coordenadora pedagógica, que ficou muito contente. Falei que fazia engenharia química, por isso matemática era minha praia. Mas que meu hobby mesmo era ler. Combinamos que na segunda-feira eu iria até lá e começaria a ler para as crianças no intervalo do recreio.



Fiquei exultante com a oportunidade. Como muita gente acredita no esporte, eu acredito na leitura como forma de mudar a vida de crianças, adolescentes, adultos e velhinhos. Para mim era unir o útil ao agradável, fazer algo que amo e lutar por algo que acredito. Cheguei quase uma hora antes com vários contos preparados.


Confesso que o primeiro dia foi meio desanimador. Alguns meninos ficaram no meio só pra fazer bagunça, tinha algumas crianças de 5 anos que mal sabiam o que estavam fazendo ali... Resultado: garganta doendo porque tive que gritar pra ler pra quer estava interessado e cabeça doendo por causa do barulho e da minha própria gritaria. Ah é, no primeiro dia li um conto chamado O Revólver, de um garoto que levava um revólver de brinquedo pra escola e causava um auê. Muitos gostaram. Li também duas fábulas de Esopo e conversei com eles sobre elas. Vocês certamente conhecem (se não, é só googlar) A Raposa e as Uvas e a Raposa e as Galinhas. Perguntei quem conhecia alguém como a raposa (nos dois casos) e alguém como as galinhas e responderam até bem. Mas, como disse, foi um fuzuê, uma zona, saí meio decepcionada, mas acho que metade disso porque não tenho experiência nenhuma com essas coisas.


No segundo dia, quando deu 14:40 (o horário que tenho com eles é às 15:30), fiquei um pouco desanimada, mas não cedi à vontade de não ir, afinal seria muita covardia.

Saí de casa sem empolgação nenhuma, nem tinha preparado um conto. Peguei um livro que ganhei no sorteio na Odisseia de Literatura Fantástica (em Porto Alegre), Assombros Juvenis, de histórias de terror/fantasia para crianças e adolescentes. Chegando lá (ainda faltavam 10minutos) resolvi ler o conto, né. O conto é uma fofura, sobre uma menina com poderes mágicos que conversa com um fantasma e ajuda a resolver um assassinato (e a fazer o fantasma descansar em paz). Gostei e achei que eles gostariam também. O sinal bateu, anunciando o recreio.

Quando apareci na porta da sala, uma das meninas, a Julia, já chegou em mim: "Tia, vamos na biblioteca, lá é menos barulhento!". Me senti a pior pessoa do mundo por ter querido desistir. Elas estavam esperando por mim, oito meninas. Fui até a biblioteca com elas - aliás, a biblioteca estava totalmente vazia -, nos sentamos e comecei a ler o conto. Primeiro disse que era uma história de terror, mas que também tinha um pouquinho de romance. Algumas ficaram com medo, outras empolgadas. Começamos. Pus a melhor entonação que pude, pra fazer uma leitura atraente e valorizar os momentos de suspense. Deu certo. Logo no começo uma branquinha de olhos azuis me interrompeu dizendo "tia, esse negócio de lendas urbanas existe mesmo?". As outras responderam por mim: umas achavam que sim, a mãe já tinha dito que sim, outras disseram que já tinham visto fantasma e uma outra que não acreditava nisso não. Eu falei que não sabia, não tinha prova, mas que não duvidava de nada. Quando formou-se o grupo que faria o trabalho com a protagonista da história vi que tinha escolhido o conto certo: dois nomes se repetiam na minha mesa e na história, Marcela e Julia. Elas logo zoaram umas às outras e, durante a história, quando a Marcela falava algo prepotente, elas davam uma cotovelada na Marcela que estava ali com a gente.

No clímax da história elas seguraram uma na mão da outra e falavam coisas como "tia, e agora?" ou "ai meu Deus, tia!". Foi tão bom! E quando a história terminou, com uma pontinha de romance, todas se derreteram também. Aí aconteceu o melhor: todas pediram o livro emprestado! Uma das meninas já tinha pedido o livro onde peguei o conto do revólver ontem, aí hoje umas 5 quiseram o livro! Falei que tiraria xerox das histórias pra elas (elas começaram a brigar dizendo quem tinha pedido primeiro).

Os dias que se seguiram também foram ótimos. Continuamos a ler os contos de Assombros Juvenis até o último dia de aula. E no último dia já eram 15 meninas. E quatro meninos que ficavam em volta pra ouvir fingindo fazer outra coisa.



A ideia agora é criar um projeto sério, onde possamos unir a leitura ao aprendizado de geografia, história, matemática, ciências... Tudo o que for possível! Pensei em trabalhar algo relacionado a ética trabalhando alguns textos bíblicos e não bíblicos e até em passar o seriado Once Upon a Time pra eles. E, se der certo, deixo de ter um grupo separado na hora do recreio e passo a atuar na sala de aula com todo mundo. Só que, apesar da minha empolgação, estou também morrendo de medo. Uma coisa é estar com os que gostam do que eu faço, outra totalmente diferente é ter que chamar a atenção de quem fala o clássico "odeio ler".


Mas é mais que óbvio que vou tentar. Fica minha dica aos que pensam em "como fazer alguma coisa", mas não sabem por onde começar. As escolas PRECISAM de gente. Até pra apitar um jogo de futebol no recreio ou ficar na barraca de caldo na festa junina. Você é necessário lá. Só falta querer.


E fica, também, meu agradecimento à minha sister Daiane, que abriu meus olhos pra essa oportunidade me contando, como professora de história, que essas ações eram muito bem-vindas nas escolas públicas. Brigada, Dai!

3 comentários:

  1. Diana, tu precisa ler o livro VOLTAR A LER, comentei ele no último post no meu Blog e vai sair resenha no Sul 21. Tô orgulhosa de ti amiga. Quero ajudar a espalhar iniciativas como a tua. Parabéns!!

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  2. Ah Di, que orgulho!!!!!Parabéns, mais uma vez!
    As nossas escolas e crianças, tão carentes de pessoas que realmente se preocupam em fazer o melhor por elas, precisam muito de pessoas como tu, que com a cara e a coragem estão dispostas a fazerem o que podem.
    Dou a maior força na elaboração desse teu projeto para continuar o trabalho, conte comigo para o que precisar, especialmente, se tu for relacionar algo com a História! hehe
    To que não "guento" de faceira!
    Gente, precisamos de mais Diana's no mundo!!!!
    beijos :)

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  3. Muito legal Di! Tbm estou orgulhosa de vc e queria ter essa coragem. Já tentei trabalhar com crianças e nunca me dei bem. Enfim... quem sabe um dia eu arrisco. ;-)

    Nos conte mais sobre as aventuras e o projeto!

    Bjs!!!

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