terça-feira, 31 de julho de 2012

Rápida consideração sobre o Rapex


O estupro tornou-se um problema endêmico na África do Sul, então uma técnica da área médica, chamada Sonette Ehlers desenvolveu um produto que imediatamente chamou a atenção nacional. Ehlers nunca se esqueceu de uma vítima de estrupo lhe dizendo, "Se ao menos eu tivesse dentes lá embaixo." Algum tempo depois, um homem chegou ao hospital no qual Ehlers trabalha com uma dor terrível, por conta do zipper que havia fechado sobre seu pênis. Ehlers misturou as duas imagens e desenvolveu um produto chamapo Rapex. O produto parece um tubo, com fisgas dentro. A mulher o coloca como um absorvente interno, através de um aplicador, e qualquer homem que tentar estuprar a mulher irá se rasgar com as fisgas e precisará ir a um hospital para remover o Rapex. Quando os críticos reclamaram que se tratava de uma punição medieval, Ehlers respondeu, "Uma punição medieval para uma atitude medieval."

Essa mensagem é recorrente nos blogs brasileiros, passando por épocas de extrema popularidade e depois desaparecendo quando deixa de ser "novidade". Recentemente ela voltou à tona mais uma vez e me senti obrigada a expor aqui uma breve reflexão sobre esse produto.

O Rapex tem uma boa intenção: evitar o prolongamento do estupro. Veja só: o prolongamento. Ele não evita o estupro. Se você pensar bem, a penetração só ocorre depois da subjugação da mulher. Ela tem que ser dominada - obviamente por meio de violência física -, ter suas roupas retiradas à força, seu corpo exposto e violado sem seu consentimento. Só depois de todo esse processo, inicia-se a penetração efetivamente. Quando, se ele estiver lá, o Rapex vai "salvar" a mulher através de seu simples mecanismo de funcionamento. Salvar?

Não nego, poderá ser evitada a contaminação por uma provável DST e, certamente, uma gravidez. Mas o estupro? Não. O estupro ocorreu muito antes de a penetração ocorrer, ocorreu quando o estuprador dispôs daquela mulher como quis, sem se importar com a opinião dela. O Rapex não evita o estupro, ele evita a penetração. Ou melhor, uma segunda penetração.

A mensagem se inicia falando que o produto foi criado por conta do problema endêmico que é o estupro na África do Sul. Isso é um fato irrevogável, uma problemática existente em outros países, com destaque para o Congo, que foi considerado o segundo lugar mais perigoso para uma mulher viver (logo atrás do Afeganistão), onde as estatísticas dizem que 400 mil mulheres são estupradas todos os anos.

A falha desse plano é que nesses lugares, o estupro é grupal. Não é um cara que pega uma mulher num beco escuro de vez em quando: são dezenas de soldados (milícia ou exército) que assistem o estupro de uma mulher e aguardam por sua vez. Diga, então, você que me lê, se o Rapex não é a sentença de morte dessa mulher? Ela inutiliza um e apanha de outros 20. Apanha, continua sendo estuprada e aumenta consideravelmente sua chance de ser morta no fim.

Então, alguém pode ser perguntar, qual vai ser a utilidade do Rapex?

Nesses países, as mulheres mais sortudas são aquelas estupradas apenas por seus maridos. Aquelas forçadas a atender aos desejos deles a qualquer hora, contra suas vontades, muitas vezes na frente dos filhos. Essas mulheres podem buscar vingança no Rapex. Podem tentar mostrar a seus maridos, correndo grandes riscos, que existe uma forma de se defenderem. Por fim, no pior dos casos, de modo imaturo e tolo, uma ex-namorada também pode tentar obter vingança com o Rapex.

Resumindo: ninguém vai discordar que nenhuma jovem, brasileira ou não, sai de casa para a balada com um Rapex, só para o caso de algum imbecil decidir estuprá-la; o produto não evita o estupro, apenas impede que se prolongue e evita uma gravidez - com sorte a transmissão de uma doença; nos lugares em que o problema é endêmico, o Rapex pode ser chamado de Suicidex, tamanho o risco que ocasiona à usuária. Pode, esse produto, ser chamado de "a solução para o estupro", como alguns blogs estão dizendo?

Não pode.

3 comentários:

  1. Diana, adorei a tua reflexão. Li sobre esse tal Rapex aí e fiquei pensando sobre isso também.
    Ok que previna DST's e a gravidez, mas o estupro? Só um pouquinho, né. Qualquer tipo de ato sem o consentimento da mulher é estupro. Então dizer que esse objeto que "castiga" os "homens maus" é a solução para o estupro é meio exagero..
    Dá um bom debate, curti! :)

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  2. A ineficácia de fato é evidente. E a possibilidade de morte após o uso de um desses é muito alta. No Congo, então? Se eu fosse doente ou "machistamente" estúpido o suficiente para ser um estuprador, facilmente mataria alguém que usasse algo assim contra mim. Com certeza há maneiras reais e melhores de se prevenir estupros, ainda que elas passem por reformas culturais e educacionais difíceis de serem consolidadas.

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  3. Sua reflexão não chega a ser sobre o RAPEX, sua reflexão é mais sobre a educação das pessoas, porque somente pessoas educadas não fazem essa barbaridade e mesmo assim se o povo fosse super educado, ainda sim ocorreriam estupros mortes e roubos.
    Mas em se tratando do RAPEX, já que você muitas vezes não pode tirar foto do criminoso na hora do estupro, ele é que vai ser o delator do crime. Isso se o estupro for vaginal.
    Eu vejo como uma ajuda e muito válida.
    O pensamento sobre a vingança contra alguém que usa, tem uma falha: O sujeito pode até matar a mulher, mas ainda sim continuará com o RAPEX no dito cujo, e ai quando ele for no hospital o RAPEX servirá de prova para 2 crimes ao invés de 1 apenas.
    Agora entre o RAPEX e a liberação do porte de arma, eu preferiria o porte de arma. A polícia nunca foi e nunca será onipresente. E acreditar que só a polícia deve andar armado é pacifismo irresponsável.
    Mesmo que muitos sejam educados, qualquer um é passível de cometer um crime, isso porque não ficamos a todo o tempo explorando nossos limites psicológicos para saber o quanto aguentamos.
    Isso com excessão de GOIÂNIA A CAPITAL DO TERRORISMO PSICOLÓGICO E CU DO BRASIL.

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